segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Alice n° 5

Aquele corredor já parecia não ter fim, Alice beirava a ansia de vômito, pois parecia uma viagem longa em linha reta.
Depois de um percurso quase tedioso, e assim não era somente por que o ponto final era desconhecido para Alice, os tres rapazes entraram numa sala. Essa sala parecia mais um banheiro público, tinha azulejos brancos, várias pias com torneiras douradas e um espelho por pia, mas na outra parede havia uma paisagem colorida, bizarra, com vários desenhos desfigurados, que parecia demasiada real. Tinha um gramado, árvores, borboletas, cogumelos, no chão havia grama de um lado, azulejos do outro e no meio a grama parecia entrar pelos vinquinhos dos azulejos.
Os gêmeos lavaram as mãos com água e começaram a passá-las na parede, cuja deveras tinha a tinta seca, mas embaralhou suas cores todas com a ação das mãos dos meninos, como se estivessem num enorme balde ou piscina. Os movimentos de Dee e Dum continuavam impecavelmente iguais como se aquela cena tivesse sido ensaiada e reensaiada diversas vezes.
A paisagem se desfigurava mais a cada minuto, tomando cores bem escuras no ambiente como um todo, mas mantendo duas manchas coloridas isoladas na escuridão. Aos poucos as tintas foram adquirindo certa tridimensionalidade e forma de uma mesa e uma porta.
As vistas de Alice embaralhavam-se, embaçavam-se, como se tivessem muita dificuldade em assimilar as surreais imagens postas na sua frente, mas ao passo em que a mesa e a porta tornavam-se palpáveis e concretas elas puderam voltar a mostrar as coisas como realmente eram, embora a realidade ali presente fosse tão distante da realidade convencional de uma cidade quase grande a qual Alice costumava ver diariamente.

-Ei garoto, - disseram os gêmeos com tom ameaçador - você tem mesmo certeza que quer o Coelho?
-Ora, parem de me assustar! - disse ingênuo - O que tem demais em querer conhecer uma pessoa?
-Pois você é ralmente patético menino! - responderam-lhe com a expressão nos rostos carregadas de despreso.

Juntos, como sempre, sairam pela mesma porta por onde entraram sem dar a menor orientação para o menino, que ficou atônito. Alice deu uma olhada no ambiente, que subtamente mudou do branco reluzente dos azulejos pro negro profundo das paredes e antes que pudesse reparar nas pequenas e escassas mudinhas de grama no chão ouviu uma voz confortante.

-Olá? Tem alguem aí? Tem alguém atrás da porta?
-Tem! - respondeu Alice, com pressa.
-Então abra pra mim!

E lembrando dos conselhos dos gêmeos disse:

-E por que eu deveria?
-Por que eu sou o portal, ora essa!!!